terça-feira, 19 de novembro de 2013

Reforma na China derruba valor do dólar

Moeda tem a maior queda desde agosto com investidores otimistas com perspectiva de maior abertura chinesa
Dólar fecha em baixa de 2,2% em relação ao real; bom humor é global, e Bolsas sobem no Brasil e no exterior
DANIELLE BRANTDE SÃO PAULO
O otimismo de investidores com as reformas anunciadas pela China na última sexta derrubou o dólar e deu impulso às Bolsas no Brasil e no mundo. A aposta de analistas é que a maior abertura da economia chinesa beneficie fornecedores de matérias primas, como é o caso do Brasil e de outros emergentes.
Nesse cenário, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou em queda de 2,20%, a maior desde 28 de agosto, cotado a R$ 2,267. E o dólar comercial, usado no comércio exterior, teve baixa de 2,32%, a maior desde 18 de setembro, para R$ 2,268.
Segundo o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, a permissão para que a iniciativa privada ocupe um espaço maior na economia chinesa atrai investimentos mais pesados ao país e anima sobretudo os emergentes, grandes fornecedores de matérias-primas.
"Isso fortalece as moedas locais em relação ao dólar", acrescenta. "Mas é difícil saber até que ponto as reformas vão se concretizar."
O governo chinês não deu prazo para a implementação das mudanças nem detalhou como vai executá-las.
Das 24 moedas emergentes mais negociadas, 18 subiram ontem em relação ao dólar. O real foi a que mais se valorizou, seguido pela rupia indonésia (alta de 1,98%) e pela rupia indiana (1,53%).
PATAMAR DO DOLAR
Para analistas, o dólar deve permanecer no patamar entre R$ 2,25 e R$ 2,30 até o fim do ano, podendo alcançar R$ 2,35 segundo algumas projeções.
Tudo vai depender, afirmam, da velocidade da redução dos estímulos econômicos nos EUA.
Desde 2012, o Fed (banco central americano) injeta mensalmente US$ 85 bilhões na economia por meio da recompra de títulos. Parte desse valor se reverte em investimentos em outros países.
Com a redução do incentivo, o volume de recursos disponíveis para essas aplicações diminui e, diante da perspectiva de menor entrada de dólares no Brasil, o preço da moeda americana tende a subir ante o real.
Na última quinta, Janet Yellen, indicada para assumir o Fed em 1º de fevereiro, deu a entender ao mercado financeiro que vai manter os estímulos até que a economia dos EUA esteja mais robusta.
INTERVENÇÕES
O BC brasileiro deu continuidade ontem ao seu programa de leilões de contratos de "swap" cambial, que equivalem à venda de dólares no mercado futuro e empurram as cotações para baixo.
O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, subiu 1,60%, para 54.307 pontos, favorecido também pelos mercados americanos. Em Nova York, os índices Dow Jones e S&P 500 bateram recordes de pontos durante o dia.
As ações da Petrobras ajudaram a Bolsa local. Os papéis mais negociados subiram 4,84%, para R$ 21,44.


9 LONGOS PASSOS O QUE PODE MUDAR
1 Criação de tribunal especial para coibir pirataria
Violações de propriedade intelectual, marca do país, receberão atenção especial

2 Fim dos preços controlados pelo governo central
Flutuarão até tarifas de serviços estatais (água, telefonia, eletricidade, transporte etc.)

3 Fatia maior para o governo em lucro de estatais
Empresas que hoje remetem de 5% a 15% de seu lucro repassarão 30% até 2020

4 Haverá bancos privados; regulação aumentará
Investidores poderão ter bancos; sistema, em grande parte clandestino, será reformado

5 Redução gradual no controle de juros e câmbio
O teto de juros em bancos estatais deixará de existir; controle cambial será afinado'

6 Maior proteção para depósitos bancários
Serão criados um sistema de seguros e um mecanismo para recuperação judicial

7 Abertura maior para o investimento externo
Restrições a empresas serão afrouxadas; fusões e aquisições, permitidas sob limites

8 Investimento social passa a ser uma prioridade
Emprego e renda receberão atenção; serão criados sistemas de Previdência e saúde

9 Agricultor terá direito de posse de terra ampliado
Transferência será permitida


Burocracia será menor que a do Brasil, diz advogado
Foco no consumo interno abre oportunidades, avalia responsável por 1 dos 3 escritórios do Brasil com licença para operar na China
MARIANA BARBOSADE SÃO PAULO
As reformas econômicas da China poderão representar uma oportunidade para ampliar a pauta de exportações brasileiras, na opinião do advogado Rodrigo do Val Ferreira, 35, desde 2005 está à frente do escritório Felsberg e Associados em Xangai.
O escritório é um dos três brasileiros com licença para atuar na China e representa clientes como Banco do Brasil, BRF, Embraco, Gerdau, Queiroz Galvão e Renner.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
Folha - Como as reformas poderão contribuir para melhorar o ambiente de negócios?
Rodrigo do Val Ferreira - No médio e longo prazo, deve-se esperar uma China bem menos burocrática, mais próxima do ambiente de negócios de Hong Kong do que do Brasil. A China ganhará ainda mais competitividade.
Isso é muito bom para as empresas brasileiras aqui, mas não muito bom para as que operam no Brasil, onde o ambiente de negócios é muito burocrático.
As reformas poderão facilitar o investimento de empresas brasileiras na China?
Sem dúvida. O grau de discricionariedade e o poder de decisão das autoridades na China é muito grande.
É necessário um sem-número de licenças para coisas que, em outros lugares, são simples.
O que a reforma busca é simplificar procedimentos, com mais transparência, objetividade e rapidez.
Como uma eventual redução da presença estatal na economia pode se refletir nos negócios de empresas brasileiras?
Com um ambiente de negócios mais transparente, diminui-se tanto a margem de incerteza sobre resultados, como também o tempo e o custo para se atender às exigências do governo.
Compare, por exemplo, o ambiente de negócios de Hong Kong com o da China: se determinado investidor quer sair de um negócio e vender sua participação em uma empresa na China, é necessário notificar as autoridades chinesas e que ela concorde com a substituição.
Em Hong Kong, basta arquivar a alteração social. Por isso, em muitos casos, investidores constituem uma controladora em Hong Kong para investimentos a serem feitos na China e, quando há o interesse em sair do negócio, vendem a controladora.
O foco no consumo interno abre oportunidades para empresas brasileiras?
Sem dúvida nenhuma. A entrada da China como um grande mercado de consumo, e não só de exportação, é extremamente vantajosa para o Brasil, que, apesar dos pesares, se mantém competitivo em diversos setores.
Isso coloca toda a responsabilidade de um eventual deficit na balança em nossas mãos. Somos nós que devemos fazer nosso dever de casa, tornar competitiva nossas exportações e investir, como as empresas de outros países, no marketing de nossos produtos, em vez de simplesmente vender commodities.
Leia a íntegra

Nenhum comentário:

Postar um comentário