quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Nobreza Vermelha: China bloqueia sites após denúncia feita contra o governo


Segundo jornais estrangeiros, parentes de importantes dirigentes fizeram movimentações em paraísos fiscais
Informações surgem antes do julgamento de Xu Zhiyong, que luta por transparência nas contas de autoridades
MARCELO NINIODE PEQUIM
Os sites na internet dos jornais "El País" (Espanha), "Guardian" (Reino Unido), "Le Monde" (França) e "Süddeutsche Zeitung" (Alemanha) foram bloqueados ontem na China após a revelação de que parentes dos principais líderes do país mantêm fortunas em paraísos fiscais.
Os dados foram descobertos pelo Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo (Ciji).
Ao menos 13 familiares de dirigentes do alto escalão do governo ou de comunistas históricos são apontados como operadores de empresas offshore nas Ilhas Virgens Britânicas e em outros locais associados a fundos secretos.
No relatório, os envolvidos são chamados de "nobreza vermelha".
Entre os citados estão o cunhado de Xi Jinping, atual dirigente do país, o filho e o genro do ex-premiê Wen Jiabao, um primo do ex-líder Hu Jintao e a filha de outro ex-premiê, Li Peng.
As informações são motivo de constrangimento para o governo de Xi Jinping, que deslanchou uma cruzada contra a corrupção desde que tomou posse, em março do ano passado.
As descobertas do Ciji têm como base mais de 2,5 milhões de documentos vazados por duas administradoras que operam nas Ilhas Virgens.
Foram identificados 22 mil clientes de paraísos fiscais com endereço em Hong Kong ou na China.
"Entre eles estão alguns dos homens e mulheres mais poderosos da China, incluindo os 15 mais ricos, membros do Congresso Nacional do Povo, executivos de estatais envolvidos em escândalos de corrupção", afirma o Ciji.
As autoridades chinesas não têm obrigação de declarar seus bens, mas os dados mostram como a abertura da economia chinesa nos últimos anos enriqueceu uma elite ligada ao poder.
De acordo com estimativas, entre US$ 1 trilhão e US$ 4 trilhões deixaram o país de forma ilegal desde 2000.
A revelação ocorreu poucas horas antes do julgamento do advogado Xu Zhiyong, que luta para que haja transparência nas contas pessoais das autoridades chinesas.
Preso em julho, Xu manteve-se em silêncio no julgamento. Só falou no fim. Mas foi interrompido pelo juiz, que disse que não permitiria um "discurso político".
Fonte: Folha, 23.01.2014.

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quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Editor de livro sobre líder chinês é preso: Yao Wentian, que trabalhava em Hong Kong, estava prestes a publicar obra crítica sobre o dirigente Xi Jinping

Em outro episódio polêmico, começa hoje o julgamento de um proeminente defensor dos direitos civis no país
MARCELO NINIODE PEQUIM
Um editor de Hong Kong que estava prestes a publicar o livro de um dissidente sobre o líder chinês, Xi Jinping, está detido na China há quase três meses, de acordo com o jornal "South China Morning Post".
Segundo o diário, Yao Wentian, 73, foi cercado por cerca de dez policiais à paisana e detido no dia 27 de outubro, após ser atraído à cidade chinesa de Shenzhen sob falso pretexto.
A prisão de Yao ocorre em meio ao aumento da repressão do governo à liberdade de expressão e aos críticos do sistema, conforme o relatório anual de direitos humanos no mundo da organização "Human Rights Watch", publicado ontem.
Antes da detenção, Yao vinha trabalhando na publicação do livro "O poderoso chefão, Xi Jinping", do escritor Yu Jie, que vive nos Estados Unidos. O livro anterior de Yu foi "O melhor ator da China: Wen Jiabao", uma ácida crítica ao ex-premiê.
Vários livros censurados na China continental tornaram-se best-sellers em Hong Kong, um território semiautônomo da China, que foi colônia britânica até 1997 e onde há mais liberdade.
"A liberdade de expressão se deteriorou em 2013", afirma o relatório do HWR. "O governo e o partido mantêm múltiplas camadas de controle sobre todas as mídias".
JULGAMENTO
Em outro caso polêmico, será realizado hoje, após semanas de expectativa, o julgamento do advogado Xu Zhiyong, proeminente defensor de direitos civis no país.
Xu era um dos líderes do movimento Novos Cidadãos, que fez campanha contra a corrupção, pedindo mais transparência do governo.
Ele e outros 50 defensores de direitos civis foram presos no ano passado, na mais severa onda de repressão contra esses ativistas nos últimos anos. Outros cinco líderes do movimento serão julgados nos próximos dias.
O advogado de Xu disse à Folha que ele é acusado de "perturbar a ordem". Zhang Yingfang disse não ver chance de o julgamento de hoje, em Pequim, ser justo.
A expectativa dos advogados é que os réus sejam condenados, podendo pegar até cinco anos de prisão.
O réu e sua equipe legal pretendem ficar em silêncio hoje na corte, em protesto contra um julgamento que consideram ser de cartas marcadas.
"Essa corte não foi convocada para descobrir a verdade, mas sim para percorrer as instâncias do indiciamento dele. Não vamos cooperar com isso", disse Zhang ao "Wall Street Journal".
Em seu relatório, o HRW afirma que os ativistas de direitos humanos na China sofrem frequentemente com detenções, torturas, reclusões em instituições psiquiátricas, prisões domiciliares e intimidações.
Fonte: Folha, 22.01.2014

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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Mulher de Nobel chinês faz apelo em vídeo: Liu Xia está em prisão domiciliar desde que seu marido, Liu Xiaobo, foi condenado por oposição a regime autoritário

Na gravação, feita em segredo em seu apartamento, ela lê poemas próprios sobre a solidão e o isolamento
MARCELO NINIODE PEQUIM
Com dois poemas declamados num vídeo gravado secretamente, a artista chinesa Liu Xia tenta romper o silêncio imposto por três anos de prisão domiciliar.
Ela é casada com o escritor e ativista político Liu Xiaobo, 58, ganhador do prêmio Nobel da Paz de 2010, que está preso há cinco anos.
Embora jamais tenha sido acusada formalmente de nenhum crime, Liu Xia, 54, está confinada no pequeno apartamento do casal, em Pequim, desde que o marido foi premiado com o Nobel.
No vídeo, filmado no apartamento, a artista aparece sentada junto a uma escrivaninha. Ela segura um cigarro na mão esquerda e recita dois poemas de sua autoria, "Sem Título" e "Bebendo".
Depois, faz um sinal de positivo e esboça um tímido sorriso. Um cartaz de "desaparecida" encerra o vídeo.
"Você a viu? Não violou nenhuma lei, mas perdeu a liberdade. Ela é Liu Xia, mulher de Liu Xiaobo. Sentimos sua falta", diz o cartaz.
O vídeo foi divulgado pelo Centro PEN da China, grupo de escritores que pede liberdade de expressão no país.
Os amigos e defensores de Liu Xia dizem que, mesmo sem acusação, na prática ela passou a cumprir uma pena paralela à do marido, que foi condenado a 11 anos de prisão por sua oposição ao regime autoritário chinês.
A artista tem todos os passos vigiados pela polícia, disse Bei Ling, presidente do Centro PEN na China.
"Ela não tem liberdade para escolher seu próprio médico e não tem acesso a telefone nem internet", afirmou Bei à rede britânica BBC. "Está seriamente deprimida e tem problemas cardíacos."
Bei disse ainda que Liu Xia passou a fumar pesadamente e tem se recusado a comer.
Segundo Bei, uma vez por mês ela recebe permissão para visitar o marido na cadeia, a 500 km de Pequim. Os encontros duram apenas meia hora, e o casal é mantido separado por um vidro.
Não por acaso, os poemas lidos por Liu Xia no vídeo, gravado para um encontro do PEN realizado em homenagem a ela em Nova York, falam de solidão e isolamento.

Veja o vídeo de Liu Xia

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