Por IAN JOHNSON
YANGLING, China - A agricultura nesta região foi um dos alicerces da civilização chinesa durante cerca de 4.000 anos.
Mas agora os campos de Yangling estão abandonados. Frustrados por
ganharem muito pouco, os agricultores migraram para as cidades,
esvaziando este distrito rural no coração da China. Ficaram para trás
pessoas como Hui Zongchang, 74 anos, que cultiva trigo e milho num lote
de meio hectare enquanto seu filho é trabalhador diarista na metrópole
de Xian, ao leste.
Hui diz que não ganha praticamente dinheiro nenhum com a lavoura. Ele
continua a trabalhar na terra como uma espécie de seguro. "Que terra
meus filhos vão cultivar se eu não continuar a cuidar desta?", explicou.
"Nem todo mundo dá certo na cidade."
Antes o alicerce da cultura tradicional e depois motor do "boom"
econômico pós-Mao na década de 1980, hoje a agricultura virou um peso
para a China.
A produção agrícola continua alta. Mas o padrão de vida dos camponeses
estagnou, e poucos enxergam seu futuro como estando no campo. Cifras
recentes mostram um abismo entre a renda de trabalhadores urbanos e
rurais, com os urbanos ganhando três vezes mais, fato que alimenta a
insatisfação e ajuda a fazer da China uma das sociedades mais desiguais
do mundo.
Os líderes comunistas do país declaram que colocar o campo em ordem é
crucial para a manutenção da estabilidade social. No ano passado eles
anunciaram um plano de reforma econômica que tinha a política agrícola
como elemento central. Mas o plano enfrenta dificuldades.
As fazendas chinesas são pequenas demais para gerar lucros
significativos, tendo menos de um hectare de área, em média. Mas é
difícil consolidar essas propriedades em fazendas maiores, porque os
lavradores não são donos dos lotes -eles os arrendam do governo.
A privatização das terras agrícolas permitiria que as forças de mercado
criassem fazendas maiores, mas correria o risco de exacerbar a
desigualdade, ao concentrar a propriedade da terra nas mãos de poucos.
No final de setembro o presidente Xi Jinping endossou um experimento em
curso em Yangling e outras regiões da China. A medida não privatiza a
terra, mas concede aos agricultores o direito de usufruto da terra, que
eles podem transferir para outras pessoas em troca de uma taxa de
aluguel.
A meta é simular um mercado fundiário particular e permitir que as
propriedades agrícolas chinesas familiares, que fazem uso intensivo de
mão-de-obra, troquem de mãos e sejam reunidas em empreendimentos
industrializados de grande escala.
Mas céticos dizem que a política de Xi revela que o governo ainda não
está disposto a cogitar uma medida ousada que já funcionou bem em muitos
países: dar aos agricultores a propriedade plena da terra. "A
privatização da terra é uma questão crucial, mas é um tabu absoluto",
comentou Tao Ran, especialista agrícola na Universidade Renmin, em
Pequim. A liderança do partido "não tolera a ideia", disse ele.
Yangling criou um banco fundiário que assumiu o direito de uso da terra
numa área de 90 quilômetros quadrados e depois definiu uma taxa de
aluguel anual de pelo menos US$ 750 por hectare. Os agricultores podiam
optar entre abrir mão de suas terras e receber o aluguel ou arrendar
suas terras de volta e continuar a cultivá-las.
Mas as taxas podem gerar distorções no mercado. Elas já desencorajaram a
produção de grãos, que não são vendidos com margem de lucro suficiente
para compensar o custo de arrendar a terra. Segundo um morador, Li
Haiwen, os grãos pagam cerca de US$ 1.250 por hectare, garantindo um
lucro anual de US$ 500. "Quando mais grãos você planta, mas pobre fica",
ele disse.
Em vez de grãos, ele cultiva arbustos de magnólia, usados na medicina
tradicional. Mas diz que a agricultura é apenas uma atividade secundária
para ele. Sua principal fonte de renda é seu trabalho de jardineiro
paisagista.
"Acho que nossas cabeças estão se abrindo e estamos percebendo que existem outras maneiras de ganhar dinheiro", ele comentou.
Os planejadores governamentais esperam que mais agricultores sejam
transferidos para as cidades, para que o campo seja despovoado aos
poucos, dando lugar à produção agrícola em escala cada vez maior. Para
pessoas que ainda querem cultivar a terra, como Zhou Yuansheng, 66, esse
sistema é um exemplo de como ele não tem voz. "Ninguém me perguntou o
que eu quero fazer com minha terra." NYT, 21.10.2014.
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Colaboração de Amy Qin