terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Confronto na China mata ao menos 16: Embate entre policiais e grupo suspeito ocorreu em Xinjiang, província com forte presença da minoria étnica uigur

Uigures, que são 45% da população local, acusam o governo chinês de repressão e de privilegiar a etnia han
MARCELO NINIODE PEQUIM
Um novo confronto na instável província de Xinjiang, noroeste da China, fez 16 mortos, incluindo dois policiais.
É mais um na série de episódios violentos dos últimos meses sob o pano de fundo da tensão étnica que paira entre a minoria muçulmana uigur e as autoridades.
O incidente ocorreu no domingo à noite perto da cidade de Kashgar, uma área de forte predominância uigur.
Policiais que perseguiam suspeitos foram atacados por um grupo com facões e explosivos, afirmou o portal Tianshannet, mantido pela Região Autônoma de Xinjiang.
Foi o segundo incidente na região em um mês, após um ataque à polícia que deixou 11 mortos.
O governo costuma culpar "extremistas" islâmicos pela violência na província, uma das maiores da China e importante pelos recursos minerais e por ser a porta de entrada para a Ásia Central.
Há dificuldade em confirmar as informações sobre o que ocorre em Xinjiang, devido às restrições impostas pelo governo. Jornalistas estrangeiros são frequentemente barrados.
Em outubro, quando um carro invadiu a praça Tiananmen, em Pequim, autoridades chinesas afirmaram que terroristas uigures estavam por trás do atentado, que deixou cinco mortos.
Uigures acusam o governo central de reprimir sua cultura e dar privilégios à etnia han (90% da população chinesa).
Resultado de uma política de forte incentivo à migração, a população han em Xinjiang cresceu de 220 mil em 1949, quando foi fundada a República Popular da China, para 8 milhões atualmente.
Entre os uigures (45% da população da província), há alta taxa de desemprego e crescente ressentimento contra o que julgam ser uma política de discriminação.
A agência oficial de notícias Xinhua atribuiu o ataque a "terroristas".
A porta-voz do ministério de Relações Exteriores, Hua Chunying, seguiu a mesma linha, sem mencionar extremistas islâmicos.
"Essa conspiração não tem apoio popular e está fadada ao fracasso", disse ela.
Fonte: Folha, 17.12.13.
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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Membro da cúpula do PC chinês é preso sob suspeita de corrupção: Zhou Yongkang é o mais alto dirigente a ser investigado por fraude no país desde 1949

MARCELO NINIO, DE PEQUIM
Um dos políticos chineses mais poderosos da última década foi colocado em regime de prisão domiciliar enquanto é investigado por suspeita de corrupção.
Até se aposentar, em 2012, Zhou Yongkang chefiava os serviços de segurança e era um dos homens do Comitê Permanente do Partido Comunista, órgão político máximo da China.
Ele não é só mais uma autoridade a cair na cruzada anticorrupção deflagrada pelo presidente Xi Jinping --é o mais graduado dirigente chinês investigado por corrupção desde a chegada dos comunistas ao poder, em 1949.
A sorte de Zhou, 71, começou a mudar no fim do ano passado, quando Xi Jinping assumiu a liderança do partido e nomeou uma comissão para investigar as denúncias de corrupção contra ele.
A ordem rompeu um tradicional acordo tácito de que membros aposentados do Comitê Permanente do PC não são investigados.
Nos últimos meses, vários aliados e protegidos políticos de Zhou começaram a ser investigados por corrupção. Sinal de que o cerco ao ex-czar da segurança estava se fechando.
O caso mais ruidoso foi o de Jiang Jiemin, que chefiou a agência reguladora das empresas estatais por apenas cinco meses até cair, em setembro. Ele é investigado por "violações disciplinares graves" --jargão geralmente usado para corrupção.
Antes, Jiang havia sido presidente de uma das gigantes do petróleo no país, a estatal China National Petroleum Corp (CNPC), que durante anos foi o bastião do poder de Zhou Yongkang.
Nos anos 90, Zhou também dirigiu a CNPC, que hoje sofre uma ampla investigação por corrupção. A empresa é uma das duas estatais chinesas no consórcio liderado pela Petrobras, que venceu o recente leilão para exploração do campo de Libra.
A indústria do petróleo é a mais monopolizada e lucrativa da China, e alguns analistas afirmam que a campanha anticorrupção é parte do esforço do governo para modernizar as estatais.
Mas também pode haver um outro motivo para Xi Jinping ter rompido a regra não escrita de poupar ex-membros do Comitê Permanente.
Segundo veículos de imprensa de Hong Kong e Taiwan, há suspeita de que Zhou teria mandado matar a ex-mulher e também planejado assassinar o próprio Xi.
Fonte: Folha, 12.12.13.
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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Sangue de tartaruga e pseudociência

Durante uma visita a Pequim, há alguns anos, o professor de filosofia e autor americano Stephen P. Asma teve uma gripe. Com sua mulher, que é chinesa, ele foi a um restaurante em busca de um remédio. Dois garçons cortaram o pescoço de uma tartaruga viva, despejaram seu sangue em um copo com uma dose de álcool de cereais e mandaram Asma beber. Ele bebeu.
Naquela noite, ele se sentiu melhor. Seria efeito da poção, um remédio popular chinês? Ele não tinha certeza. Mas Asma, treinado nos princípios da prova e da lógica, se dispôs a explorar a fronteira das ciências médicas oriental e ocidental.
"Muitos ocidentais zombam da própria ideia de que o sangue de tartaruga possa ter efeitos medicinais", escreveu no "NYT". "Mas essas mesmas pessoas podem beber uma tintura de casca de árvore ou colocar uma compressa de berinjela recomendada pelo doutor Oz para tratar câncer de pele. Estamos vivendo na vasta área cinzenta entre as sangrias e os antibióticos."
Mais ocidentais estão recorrendo à medicina chinesa tradicional e a outras práticas de saúde alternativas. Os americanos gastam cerca de US$ 5 bilhões por ano em suplementos fitoterápicos, muitas vezes consumidos sem aconselhamento médico. Mas, escreve Asma, "buscamos alguma validação científica para essas práticas antigas". Distinguir entre ciência e "pseudociência" é o que os filósofos chamam de "problema de demarcação".
Enquanto muitas pessoas confirmam a eficácia das terapias alternativas, evidências reais de que elas funcionam são raras.
Então que mal há em acreditar em remédios não testados, se eles parecem ajudar?
"Ceder um pouco à pseudociência em alguns casos pode ser relativamente inócuo, mas o problema é que fazer isso diminui suas defesas contra ilusões mais perigosas que se baseiam em confusões e falácias semelhantes", segundo Massimo Pigliucci, professor de filosofia na City University de Nova York, e Maarten Boudry, bolsista de pós-doutorado. "Você pode se expor e expor outras pessoas porque suas inclinações pseudocientíficas o levam a aceitar ideias que foram cientificamente reprovadas, como a ideia popular (e preocupante) de que as vacinas causam autismo."
Então em quem podemos confiar? Os que acreditam nos rigores da medicina e pesquisa ocidentais foram recentemente lembrados de que nenhuma ciência é perfeita. Um grande estudo que durou cinco anos revisou radicalmente as diretrizes para se tomar estatinas, classe popular de remédios para reduzir o colesterol. Ele foi recebido com grande interesse. As estatinas, concluíram os pesquisadores, beneficiariam um grupo muito maior de pessoas do que se pensava antes, revelação que certamente impulsionou milhões de prescrições das drogas. Apenas alguns dias depois, essas conclusões foram contestadas e a credibilidade das diretrizes ficou arruinada.
"Foi uma incompreensão catastrófica de como enfrentar esse tipo de mudança na política pública", disse ao "NYT" o doutor Steven Nissen, cardiologista da Cleveland Clinic. "Haverá uma grande reação."
Sobre sua própria saúde, Asma diz que é um "devoto da verdade pragmática falível".
"Apostamos em tratamentos de saúde", escreveu.
"Apostamos no maior número possível de opções; um pouco de acupuntura, um pouco de ibuprofeno, um pouco de sangue de tartaruga. Jogue cartas (ou remédios) suficientes e um dia a sorte cruzará o seu caminho."

Sexo impulsiona mercado na China

Por DAN LEVIN
CANTÃO, China - Boquiaberto e transpirando, Chen Weizhou olhava bonecas de silicone em tamanho natural com lingeries. Acima delas, um tutorial em vídeo mostrava como as bonecas, uma vez despidas, eram realistas ao tato.
Chen, 46, motorista de ônibus, é casado e havia ido ao Festival Nacional da Cultura Sexual, em Cantão, atrás "de diversão". "Quando você é jovem, o sexo é misterioso, mas, quando você se casa, ele fica insípido", disse.
Com o tema "sexo saudável, famílias felizes", a 11a edição da feira anual, de 8 a 11 de novembro, buscou remediar o drama de homens chineses como Chen -e das suas mulheres. A esmagadora presença de homens na feira reflete um desequilíbrio demográfico na China, onde décadas da política do filho único e uma preferência cultural por filhos homens se combinaram com os abortos seletivos de meninas, prática ilegal, gerando uma distorção de gênero nos nascimentos, com 118 bebês meninos para cada 100 meninas em 2012.
Na província de Guangdong, onde há cerca de 30 milhões de trabalhadores migrantes, a escassez de mulheres limita as opções dos solteiros.
Na capital de Guangdong, no sul da China, milhares de visitantes, quase todos homens de meia-idade portando câmeras, percorriam os corredores do centro de exposições em busca de qualquer pedaço de carne visível.
"Os caras passam o dia tirando fotos minhas", disse a modelo Liang Lin, 23, que vestia só um biquíni e abraçava defensivamente a barriga descoberta, enquanto uma multidão masculina se acotovelava em busca do melhor ângulo.
Três décadas depois de a China começar a se desfazer dos pudicos costumes da era maoista, o sexo virou um grande negócio. Em todo o país, "salões de cabeleireiro" com iluminação rósea e atendentes femininas em trajes provocativos competem com as clínicas de massagens e as acompanhantes pagas que enfiam seus cartões de visita sob portas de quartos de hotel. Quem quer apimentar seus encontros pode fazer compras em lojas de "produtos para saúde adulta" ou pela internet.
Segundo a imprensa estatal, mais de mil empresas chinesas produzem cerca de 70% dos brinquedos sexuais do mundo, faturando US$ 2 bilhões por ano, conforme dados de 2010.
O Partido Comunista proíbe a pornografia e pune os culpados por "licenciosidade grupal", em nome da proteção de valores chineses tradicionais, mas a autoridade moral do partido vem sendo abalada por causa da revelação de peripécias sexuais de alguns dirigentes. Em junho, um funcionário do governo foi sentenciado por corrupção depois da divulgação de um vídeo em que ele aparecia na cama com uma moça de 18 anos.
Em um esforço para conferir um verniz de respeitabilidade à feira, organizações médicas governamentais mantiveram alguns estandes, que ficaram às moscas. O apelo principal era a luxúria.
Esses desejos insaciados contribuem para a explosão do mercado doméstico dos brinquedos sexuais. A rede chinesa Buccone vende acompanhantes inanimadas de luxo. Essas bonecas de borracha, que custam US$ 6.400, se aquecem "como uma pessoal real", disse o funcionário Nie Tai, 23, e podem ser customizadas.
Li Jianglin, 42, gerente de uma fábrica de calçados, venceu um concurso em que os participantes inflavam um preservativo, tentando estourá-lo antes dos concorrentes. Ele ganhou um prêmio em dinheiro equivalente a US$ 0,16, camisinhas com aroma de morango e um aparelho a pilha, rosa, com os dizeres "domine pelo gozo" na caixa. Ele examinou a geringonça.
"Essas camisinhas são úteis, mas não sei o que é esse troço."
Uma corretora imobiliária aposentada, de 66 anos, acariciava um aparelho de formato anatômico, que seu marido comprou por US$ 8. A mulher, que se identificou apenas como sra. Huang, comentava com deslumbramento como tudo mudou desde seu casamento, em 1975. "Na época, sob o Mao, a gente nem podia falar de sexo", disse. E como então o casal aprendeu? Ela sorriu. "Instinto."