terça-feira, 11 de novembro de 2014

Estudo contraria previsões para a economia chinesa


Por NEIL IRWIN


Ultimamente tem havido muita discussão sobre a desaceleração da economia chinesa. Porém, deixando de lado os desafios enfrentados pelo país neste trimestre ou no próximo ano, uma coisa parece ser certa: a China é uma locomotiva econômica que movimentará a economia global pelo menos por mais uma geração.
Há anos, revistas importantes, editoriais e livros destacam o Século Chinês. Segundo previsões oficiais -de agências internacionais, como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico e o Banco Mundial, e de círculos da inteligência dos EUA-, a China continuará crescendo rapidamente nas duas próximas décadas e sua economia se tornará maior que a dos EUA.
Mas será que tudo isso não é um equívoco?
Muitas das previsões mais confiantes se baseiam, em maior ou menor grau, em extrapolação. Há mais de três décadas, a produção econômica per capita na China vem crescendo a uma taxa anual extraordinária de 6% a 10%, ascendendo rapidamente na direção dos níveis registrados nas nações mais ricas. Se isso continuar por duas décadas, as previsões confiantes estarão corretas.
Mas, quando se examina o longo arco histórico da economia, a conclusão é que esse desempenho seria uma aberração notável.
Esse é o argumento apresentado em um novo trabalho dos economistas Lant Pritchett e Lawrence H. Summers, da Universidade Harvard.
Em suma, o desempenho passado não prevê resultados futuros. A tendência real é a "reversão para a média". Países com longos períodos de crescimento anormal tendem a reverter seu crescimento para algo em torno de 2%, mais próximo à média global de longo prazo.
"A experiência da China de 1977 a 2010", de crescimento contínuo e superveloz por mais de 32 anos, "já se destaca como caso único, possivelmente até na história da humanidade", escrevem eles.
"Por que o crescimento fica mais lento? Principalmente porque é assim que o crescimento rápido funciona."
Entretanto, um aspecto interessante do argumento de Pritchett e Summers é a falta de detalhes sobre o que leva o crescimento à desaceleração.
Eles dizem apenas que as evidências históricas sugerem que isso é provável. Talvez as preocupações sobre níveis de endividamento e maus investimentos na China sejam justificadas. Porém, é razoável pensar que há mais probabilidade de uma mudança.
Os argumentos mais fortes de que Pritchett e Summers podem estar errados enfocam explicações sobre por que a China ainda tem potencial para continuar crescendo rapidamente durante muitos anos.
Pedi a opinião de Jim O'Neill, ex-estrategista do Goldman Sachs que popularizou o termo Bric para as grandes economias emergentes de Brasil, Rússia, Índia e China, sobre esse assunto.
"No caso da China e da Índia, a probabilidade de continuarem por um caminho mais positivo se deve ao mero processo de urbanização", escreveu O'Neill em um e-mail.
"Se e quando cada um desses países estiver quase 70% urbanizado, eu terei mais simpatia pelas descobertas desses economistas, mas ainda é preciso aguardar o que o tempo dirá." Vale observar que pouco mais da metade dos chineses e um terço dos indianos moram em cidades.
Há décadas, economistas elaboram modelos para tentar entender o que fomenta o crescimento. É um destino econômico moldado pela cultura? Pelo governo? Por padrões de industrialização? Esses debates continuam inconclusivos.
Anos de trabalho sobre a teoria do crescimento sugerem que não há uma receita secreta para um país em desenvolvimento alcançar a prosperidade.
Portanto, a abordagem simplista de reversão à média explica o crescimento econômico tão bem quanto outras abordagens mais complexas. NYT, 11.11.2014

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